🕯️ Capítulo 10 — Sussurros, Avisos e Vinho
Na manhã seguinte, assim que entrei no prédio, senti.
A mudança.
Cada assistente, designer, estagiário e gerente virou a cabeça quando passei. Alguns abaixaram o olhar em respeito. Outros mantiveram os olhos fixos em mim, como se eu fosse uma manchete ambulante.
Eu não os culpava.
Afinal, transformei um casamento nacional em uma novela — e saí dele com uma empresa sob meu domínio.
Rosa me alcançou quando me aproximei do meu escritório.
“Tem… muita coisa circulando esta manhã”, ela sussurrou.
“Rumores?”
Ela assentiu.
“Alguns dizem que você planejou tudo,” disse com cautela. “Que deixou Isabel ter o casamento para fazê-la parecer ridícula. Outros acham que você não tem coração. E alguns…”
“Alguns acham que sou um gênio”, finalizei.
Rosa hesitou e então sorriu.
“Isso também.”
Dei um pequeno aceno de cabeça e entrei no meu escritório.
Eu mal tinha me sentado quando meu telefone tocou.
Número desconhecido.
Quase recusei.
Mas algo me disse para atender.
“Alô?”
Uma voz masculina, suave, controlada.
“Senhorita Navarro. Aqui é o Doutor Azevedo, do Hospital Geral de Altamira. Estou ligando sobre sua irmã, Isabel.”
Quase ri.
“Ela não é minha irmã.”
Houve uma pausa.
“De qualquer forma… ela desmaiou esta manhã. Sua condição piorou drasticamente. Ela está pedindo por você.”
Recostei-me na cadeira.
“Claro que está.”
“Senhorita Navarro, ela pode não durar a semana.”
Silêncio.
Então eu disse: “Diga a ela que irei. Mas apenas uma vez.”
E desliguei.
Mais tarde naquele dia, eu estava novamente no corredor do hospital.
Tudo cheirava a alvejante e arrependimentos antigos.
Carmen estava sentada do lado de fora do quarto de Isabel, chorando dramaticamente.
No momento em que me viu, sua expressão mudou.
“Agora você aparece? Ela está morrendo, María!”
“Eu soube”, respondi friamente. “Você deveria estar feliz. Ela conseguiu seu sonho.”
Carmen se levantou, tremendo de raiva. “Como você ousa—”
Antes que pudesse avançar em mim, a porta se abriu. Antonio saiu.
Ele parecia exausto. O rosto abatido, o terno amassado. O menino de ouro começava a rachar.
“María”, disse ele.
“Antonio”, respondi, como se fôssemos estranhos.
“Ela quer te ver.”
Passei por ele e entrei.
Isabel estava deitada na cama, a pele pálida, os olhos fundos. Parecia meio cadáver, meio santa de pintura.
“María…” ela sussurrou.
Fiquei perto da porta.
Ela sorriu fracamente.
“Eu sabia… que você viria…”
“O que você quer?” perguntei.
Ela tossiu, depois sussurrou: “Estou com medo.”
Não disse nada.
Ela me olhou com olhos desesperados. “Você acha… que pessoas como nós… vão para o céu?”
Ergui uma sobrancelha. “O que você quer dizer com pessoas como nós?”
Ela não respondeu.
Em vez disso, pegou algo na mesinha ao lado — uma pequena carta.
“Eu escrevi isso… para você…”
Não peguei.
“Não estou aqui para jogar seus jogos, Isabel. Se quer perdão, peça ao espelho. Não a mim.”
Lágrimas encheram seus olhos.
“Você realmente… não vai me perdoar?”
Aproximei-me. Só um pouco.
“Você nunca sentiu culpa. Nem por um segundo. Você foi invejosa. Foi gananciosa. Quis tudo o que era meu.”
Olhei-a nos olhos.
“E conseguiu. Então morra com isso.”
Ela estremeceu.
Mas antes que pudesse responder, as máquinas atrás dela começaram a apitar freneticamente.
Médicos e enfermeiras entraram correndo.
Empurraram-me para o lado.
“Fora! Agora!”
Saí para o corredor, onde Carmen e Antonio correram até a porta.
Não esperei pelo desfecho.
Saí daquele hospital pela última vez.
Naquela noite, estava sentada na varanda, com uma taça de vinho, quando chegou uma mensagem.
Leonardo.
Jantar. Cobertura. 21h. Vou mandar um motorista.
Não respondi.
Às 20h55, eu estava no carro.
O restaurante na cobertura era exclusivo — uma joia escondida acima da cidade, com vista para o horizonte de Altamira. As luzes douradas brilhavam como estrelas.
Leonardo estava esperando, vestido com um terno preto, sem gravata. Impecável. Descontraído. Perigosamente composto.
“Você veio”, disse ele, puxando minha cadeira.
“Estava entediada”, respondi.
Ele sorriu. “Espero mudar isso.”
O jantar foi silencioso. Delicioso. Elegante. Sem conversa fiada.
Finalmente, enquanto saboreávamos a sobremesa, ele falou.
“Tenho observado você.”
“Isso não é nada assustador.”
“Não estou observando seu corpo, María”, disse ele com frieza. “Estou observando seus movimentos. E tenho uma proposta.”
Inclinei-me para frente. “Estou ouvindo.”
Ele cruzou as mãos. “A CHEZ MARÍA é brilhante. Mas pequena. Posso levá-la ao mundo. Semanas de moda em Paris, Milão, Tóquio. Acordos de distribuição. Investimento.”
Inclinei a cabeça. “E o que você ganha?”
“Um assento na primeira fila”, respondeu. “E uma parceria com a mulher mais perigosa de Altamira.”
Estudei-o.
Ele não piscou.
Não flertou.
Não implorou.
Ofereceu respeito.
Respeito real, raro.
Levantei minha taça.
“A novos impérios”, disse.
Brindamos.
Ele sorriu. “Que renasçam das cinzas.”
E eu sorri de volta.
Porque o meu já havia renascido.