Saí do palco sem olhar para trás.
Ainda sentia todos os olhares sobre mim — alguns cheios de admiração, outros de pena e muitos… simplesmente sedentos por mais drama.
Retornei ao meu assento como uma rainha voltando da batalha, minha bochecha ainda ardendo do tapa do meu pai, mas minha postura reta como sempre.
O homem ao meu lado — aquele com a voz calma e profunda — inclinou-se levemente e sussurrou:
— Lembre-me de nunca ficar do seu lado ruim.
Deixei escapar um pequeno sorriso. O primeiro do dia.
— E você é…?
Ele estendeu uma mão perfeitamente cuidada.
— Leonardo Montero. Investidor. Sócio da família Martínez. Supostamente.
Esse nome me soava familiar.
Leonardo Montero. O bilionário elusivo. Perfil discreto. Implacável nas salas de reunião. Intocável fora delas.
Apertei sua mão. Firme. Dedos frios.
— Você não parece alguém que gosta de casamentos — murmurei.
— Não gosto — respondeu simplesmente. — Mas esse? Eu não perderia por nada no mundo.
Ergui uma sobrancelha.
— Está se divertindo com o drama?
— Imensamente.
Um leve sorriso tocou seus lábios.
Antes que eu pudesse responder, meu pai reapareceu no palco, forçando um sorriso falso enquanto tentava salvar o que restava da cerimônia.
Carmen segurava a mão de Isabel agora, parecendo a própria Santa Maria, chorando ao lado de sua filha meio morta e radiante.
E Antonio… pobre Antonio.
Ele se esforçava para manter tudo sob controle, mas seu terno estava levemente amassado, seu rosto ainda corado, e seu sorriso — aquele que já foi encantador — parecia forçado e nervoso sob os holofotes.
Eles seguiram o protocolo. Votos. Alianças. Um beijo.
A plateia aplaudiu fracamente.
Acabou.
Exceto… não acabou.
Enquanto os convidados começavam a se mover, senti Leonardo se levantar ao meu lado.
— Já está indo embora? — perguntei.
— Não — respondeu suavemente. — Estou indo com você.
Pisquei.
— Como é?
Ele ajeitou as mangas do paletó.
— Você é a única parte interessante desse evento. E, por acaso, acho você fascinante.
Encarei-o.
— Você está falando sério.
Ele sorriu de lado.
— Mortalmente.
Eu já não tinha mais energia para discutir. Caminhei para fora, e ele me seguiu.
Lá fora, respirei fundo o ar fresco. O céu estava azul-claro, os pássaros cantavam. Um contraste perfeito para o veneno do qual eu acabara de escapar.
Leonardo parou ao meu lado, mãos nos bolsos, também olhando para o céu.
— Eles vão tentar fazer de você a vilã — disse ele, como quem afirma algo óbvio.
— Já tentaram.
— E você lidou com isso… magistralmente.
Silêncio.
Então ele acrescentou:
— Eu vi você abrir mão de um homem, de seu vestido, do seu casamento, da sua dignidade — tudo com postura e um senso de humor afiado.
— Você esqueceu das joias — falei.
Ele riu baixinho.
— Que descuido o meu.
Uma pausa. Então perguntei:
— Por que você realmente está aqui?
Leonardo me olhou, finalmente. Seus olhos eram escuros, mas não cruéis — focados, calculistas.
— Gosto de investir em ativos raros.
— Eu não estou à venda.
— Eu nunca disse que estava.
Outro silêncio. A tensão entre nós não era romântica — ainda não. Era afiada. Elétrica. Como duas forças poderosas se reconhecendo.
Então Rosa, minha assistente, ligou.
— María, a imprensa quer uma declaração. E… a reunião do conselho é daqui a uma hora. Você me pediu para lembrar.
Ah, sim. A empresa. Agora minha empresa.
— Preciso ir — disse a Leonardo.
Ele assentiu.
— Então eu vou com você.
— O que te faz pensar que está convidado?
— Eu não fui. E é isso que torna tudo mais interessante.
Por algum motivo, deixei que ele me acompanhasse.
Dentro do carro, enviei uma mensagem para Sofía: “O casamento acabou. Todo mundo está comentando. Vou estar nos trending topics até o fim do dia.”
Ela respondeu na mesma hora: “Estou assistindo a live. Você é uma lenda.”
Suspirei e recostei no banco.
Leonardo me observava, em silêncio.
Depois de um momento, ele falou de novo:
— Você não está com raiva.
Olhei para ele.
— Quero dizer, realmente com raiva. Você está ferida, humilhada, furiosa — sim. Mas, no fundo? Você está calma.
— Isso é o que a sobrevivência parece — respondi suavemente.
Ele assentiu, como se eu tivesse confirmado uma teoria.
Então disse algo que fez meu coração saltar uma batida:
— Tenho a sensação de que vamos trabalhar muito bem juntos.