🌪️ Capítulo 13 — De Volta Onde Tudo Queimou
Três dias após o desfile em São Paulo, eu voltei para Altamira.
Mas não silenciosamente.
A sala VIP do aeroporto estava cheia de paparazzi. Fãs pedindo fotos. Blogueiros de moda com microfones. Todos queriam ver a mulher que transformou traição em uma marca e desilusão em alta-costura.
Não parei para nenhum deles.
Apenas mandei meu motorista abrir a porta, entrei vestindo óculos escuros e um trench coat bege, e dei uma única ordem:
— Me leve até a propriedade dos Navarro.
Ele hesitou.
— Tem certeza, senhora?
— Sim.
Era hora.
A propriedade dos Navarro estava igual.
Grande demais, vazia demais, impecável demais.
Flores falsas na mesa. Tapetes importados. A mesma energia fria em cada canto. O lugar que eu costumava chamar de lar, mas onde nunca pertenci de verdade.
A empregada ficou chocada ao me ver.
— Senhorita María… Eu não sabia que a senhora estava—
— Onde está Mariano?
— No escritório, senhora.
Claro.
A mesma cadeira de couro. O mesmo copo de uísque. O mesmo homem que escolheu a filha de outra mulher em vez da sua própria.
Ele levantou os olhos quando entrei, claramente surpreso — embora tentasse esconder.
— María.
— Pai.
Nos encaramos por um longo segundo.
Ele apontou para a cadeira à sua frente.
— Sente-se.
Eu não me movi.
— Você voltou de São Paulo. Vi a repercussão. O país inteiro está falando de você.
— Eu sei.
Ele tomou um gole da bebida.
— Você parecia… poderosa.
— Eu sou.
Ele assentiu lentamente.
— Isso é uma visita… ou um aviso?
— Nenhum dos dois. Respondi. — Isso é um fechamento.
Ele se recostou, os olhos cautelosos.
— Sabe, murmurou, por muito tempo, achei que sua mãe tivesse te amaldiçoado. Culpei ela. Pelo jeito que você revidava. Pela sua frieza. Pela sua raiva.
Fiquei em silêncio.
— Mas agora percebo… ela não te amaldiçoou. Ela te preparou.
Meu coração não se mexeu ao ouvir o nome dela. Não mais.
— Ela me ensinou a sobreviver, respondi. — Você me ensinou o que não se tornar.
Ele suspirou, colocando o copo sobre a mesa.
— Então, o que você quer, María?
Peguei os papéis que guardei para este momento.
— As ações. Declarei. — A participação original da minha mãe na Navarro Holdings. Você prometeu.
Ele riu com desdém.
— Eu disse que pensaria—
— Você prometeu. No casamento de Isabel.
Ele me observou com atenção.
Então pegou a caneta.
Assinou.
Carimbou.
Empurrou os documentos na minha direção.
— Sempre achei que deixaria tudo para ela, murmurou. — Mas… ela se foi.
— Ela nunca foi tudo. Você só a tratou como se fosse.
Ele me olhou com algo que quase parecia arrependimento.
— Fui cruel.
— Sim.
— Talvez eu nunca consiga seu perdão.
— Não vai.
Ele assentiu mais uma vez.
Peguei os documentos assinados, os guardei na bolsa e me virei para sair.
— María, ele chamou suavemente.
Parei na porta.
— Não sei se um dia você terá uma filha… mas, se tiver, espero que a trate melhor do que eu te tratei.
Virei apenas o rosto para encará-lo.
— Se um dia eu tiver uma filha, respondi, — ela nunca precisará conquistar o meu amor. Essa é a diferença entre nós dois.
Então, fui embora.
Lá fora, o céu estava escurecendo.
Trovões roncavam ao longe.
Uma tempestade estava chegando — poético, talvez. Mas adequado.
Rosa me ligou assim que entrei no carro.
— María. Acabamos de receber uma solicitação de mídia. Bem agressiva.
— De quem?
— Altamira Daily. E… o Canal 3.
Claro. Os abutres sempre circulavam as torres mais altas.
— Marque algo público, disse. — Uma declaração. Uma entrevista. Algo grande.
Ela hesitou.
— Você quer se expor de novo?
— Quero controlar a narrativa.
— Entendido.
Desliguei.
O motorista perguntou:
— Para onde agora, senhora?
Olhei pela janela enquanto a chuva começava a cair, borrando o vidro como lágrimas que eu não derramava mais.
— Para casa.
Porque agora… eu finalmente tinha uma.
Naquela noite, Leonardo apareceu.
Não ligou antes. Ele nunca ligava.
Apenas surgiu — uma garrafa de vinho tinto em uma mão, um sorriso astuto na outra.
— Você realmente é algo, disse ele quando abri a porta.
— Isso foi um elogio ou uma ameaça?
— Os dois.
Sentamos na varanda, relâmpagos cortando o céu à distância.
— Vi os papéis, comentou, tomando um gole do vinho. — Agora você detém trinta por cento da Navarro Holdings.
— Legalmente. Publicamente.
Ele inclinou a cabeça.
— Pretende pegar o resto?
Sorri.
— Apenas se eles cometerem o erro de me desafiar.
Ele ergueu o copo, brindando.
— Ao controle.
— Não, corrigi. — À liberdade.
Bebemos em silêncio.
E, pela primeira vez, eu não me sentia como uma mulher que perdeu tudo.
Eu me sentia como uma mulher que finalmente encontrou aquilo que sempre esteve destinada a ser.